Aarg… estou em um sonho?
N?o... isso é real. Ele é real. Ou ele sou eu...?
A dor veio como uma lamina. N?o cortava a pele, mas perfurava a consciência.
Era como se uma mente inteira — cheia de lembran?as, emo??es e memórias estranhas — tentasse ocupar o mesmo espa?o que a minha.
Minhas pálpebras tremiam. O ar que entrava pelas narinas era diferente. Mais frio. Mais denso.
O cheiro de algo queimando no ar... e sangue.
Muito sangue.
Abri os olhos — ou melhor, o olho, pois o outro estava coberto por uma faixa áspera.
O teto de madeira, desconhecido... porém estranhamente familiar, me dava um bizarro conforto. N?o era meu... mas era.
Uma sensa??o t?o confusa quanto inquietante.
Minha cabe?a latejava, como se mil martelos golpeassem o interior do cranio.
— Ele acordou! — exclamou uma voz feminina, em algum lugar fora do meu campo de vis?o.
Tentei me mover por instinto, mas o corpo n?o reagiu como eu esperava. Pequeno. Leve. Fraco.
Definitivamente, n?o era o meu.
E, por algum motivo, isso n?o me chocou.
Era como se... eu já soubesse.
“Eliah.”
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Esse nome ecoou em minha mente como um sussurro arranhado.
N?o dito em voz alta, mas vindo de dentro. De uma lembran?a que n?o era minha, e ainda assim também era.
Imagens invadiram minha mente sem controle.
Um garoto de cabelos escuros, correndo entre campos de treino.
Risos abafados. Uma mulher de armadura beijando sua testa. Um homem de olhos severos corrigindo sua postura com uma espada de madeira.
Pais. Comandantes. Guerreiros.
E ent?o, outras imagens. Fuma?a. Um ataque. Gritos.
Sangue no ch?o. O cheiro de queimado fazia sentido agora.
“Eles morreram?”
“Ele... eu fui o único a sobreviver?”
A memória me atingiu como um soco. O garoto — Eliah, o verdadeiro — havia perdido a vida naquela noite, naquele ataque.
E agora... eu estava em seu corpo.
— Você pode me ouvir, pequeno? — perguntou uma mulher de meia-idade, se aproximando com um pano úmido.
Havia gentileza em seu olhar. E preocupa??o.
Assenti devagar. N?o confiei na minha voz — ou melhor, na dele.
Meus olhos baixaram para minhas m?os.
Menores. Pálidas.
Nada parecidas com as que um dia foram minhas.
— Você teve febre durante dois dias. A pancada na cabe?a foi feia... mas vai ficar tudo bem, sim?
Ela sorriu, tentando aliviar o peso no ar.
Mas eu só conseguia pensar em uma coisa:
Isso é real. N?o é o delírio de um cérebro morrendo. N?o é o além. N?o é o fim.
Eu renasci.
E, como se o destino quisesse refor?ar a piada, renasci como Eliah.
Um nome t?o próximo do meu antigo que parecia um deboche.
Um novo corpo. Uma nova chance…
Mas a mesma ironia cruel correndo por trás de tudo.
“Você queria partir… mas n?o disse pra onde.”
Fechei os olhos e respirei fundo.
N?o via mais os tubos. Nem o peso da imobilidade.
A dor, agora, era outra. Familiar. Humana.
Talvez, só talvez... isso n?o fosse o fim.
Talvez fosse o come?o.